Em 26 de março de 2025, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciou uma decisão que marca um avanço na saúde feminina: mulheres a partir dos 40 anos agora terão acesso a um rastreamento amplo do câncer de mama pelos planos de saúde. Antes, as operadoras já cobriam a mamografia quando médicos a solicitavam, mas a nova norma exige que elas estruturem programas organizados de rastreamento para obter a certificação de boas práticas em atenção oncológica. Essa mudança responde a um debate intenso entre especialistas e reforça a importância da detecção precoce.
O que muda com a decisão da ANS?
A ANS atualizou as diretrizes do Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção Oncológica, exigindo que os planos de saúde ampliem o rastreamento do câncer de mama. Anteriormente, as operadoras garantiam mamografias apenas sob demanda médica, conforme o Rol de Procedimentos, que cobre o exame para mulheres de 40 a 69 anos. Agora, elas devem organizar um sistema proativo, convocando mulheres a partir dos 40 anos para exames regulares, mesmo sem sintomas, como critério para a certificação.
Essa certificação, embora opcional, incentiva as operadoras a adotarem padrões elevados de cuidado. A proposta inicial da ANS, em consulta pública encerrada em janeiro, sugeria rastreamento bienal apenas para mulheres de 50 a 69 anos, mas a pressão de entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), levou à inclusão da faixa etária de 40 anos. Assim, a decisão alinha-se às recomendações de rastreamento anual, reconhecendo que 40% dos casos no Brasil ocorrem antes dos 50 anos. Dessa forma, o foco passa a ser a prevenção estruturada, ampliando o acesso e a eficácia no diagnóstico precoce.
Por que começar aos 40 anos importa?
Incluir mulheres a partir dos 40 anos no rastreamento reflete a realidade brasileira do câncer de mama. Diferente de países como os Estados Unidos, onde a média de diagnóstico supera os 60 anos, no Brasil ela gira em torno de 52 anos. Isso significa que muitas mulheres enfrentam a doença antes dos 50, e 22% das mortes ocorrem nessa faixa etária, segundo a SBM. Especialistas alertam que tumores em mulheres mais jovens tendem a ser mais agressivos, tornando o diagnóstico precoce ainda mais crucial.
A mamografia anual a partir dos 40 anos aumenta as chances de detectar o câncer em estágios iniciais, quando as taxas de cura chegam a 95%. Antes da decisão, muitas mulheres dependiam da iniciativa de procurar um médico, o que nem sempre ocorria a tempo. Agora, os planos certificados assumem a responsabilidade de chamar suas beneficiárias, reduzindo barreiras como falta de informação ou acesso. Portanto, essa mudança pode salvar vidas ao antecipar intervenções e evitar tratamentos complexos, beneficiando diretamente milhões de mulheres no sistema de saúde suplementar.
Como as operadoras vão implementar o rastreamento?
As operadoras de planos de saúde enfrentam um desafio logístico com a nova regra. Para obter a certificação, elas precisam estruturar programas que incluam convocação ativa, agendamento de mamografias e acompanhamento dos resultados. Isso exige investimentos em tecnologia, como sistemas de notificação, e parcerias com clínicas de imagem. Além disso, o Ministério da Saúde estima que 18,9 milhões de mulheres entre 40 e 69 anos têm planos privados, o que demanda escala significativa.
A ANS não detalhou a periodicidade exata na nova norma, mas a expectativa é que siga a recomendação de anualidade, defendida por entidades como a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Gestores terão que treinar equipes para orientar as pacientes e monitorar a adesão, algo que o SUS já faz, mas com menos recursos. Apesar do custo inicial, especialistas acreditam que a detecção precoce reduzirá despesas com tratamentos avançados. Assim, as operadoras que se adaptarem rápido ganharão não só a certificação, mas também a confiança de suas clientes.
Qual foi o impacto do debate público?
A decisão da ANS nasceu de um processo conturbado. Em dezembro de 2024, a Consulta Pública nº 144 propôs rastreamento bienal de 50 a 69 anos, alinhado ao SUS, gerando revolta entre médicos e pacientes. A apresentadora Ana Furtado, diagnosticada aos 44 anos, liderou críticas nas redes sociais, destacando que 40% dos casos ocorrem antes dos 50. Mais de 60 mil contribuições inundaram a consulta, forçando a ANS a rever sua posição. O Conselho Federal de Medicina (CFM) e outras entidades pressionaram por uma política mais inclusiva, baseada em evidências locais.
Esse movimento mostrou o poder da mobilização social. A ANS reconheceu a necessidade de adaptar as diretrizes ao perfil epidemiológico brasileiro, onde o câncer de mama atinge mulheres mais jovens que em países desenvolvidos. A inclusão dos 40 anos na certificação reflete essa vitória coletiva, mas também expõe a tensão entre custo e qualidade no sistema de saúde suplementar. Dessa maneira, o debate público transformou uma proposta limitada em um avanço significativo para a saúde feminina.
Quais são os benefícios para as mulheres?
A nova regra traz alívio concreto para milhões de mulheres. Com o rastreamento estruturado, elas não precisarão mais esperar sintomas ou correr atrás de autorizações médicas. Planos certificados oferecerão mamografias regulares, aumentando a chance de identificar tumores pequenos e tratáveis. Em 2024, o SUS distribuiu 500 mil óculos após triagens visuais do Programa Saúde na Escola; na saúde privada, um impacto semelhante pode surgir com óculos ou tratamentos precoces para o câncer.
Além disso, a medida empodera as beneficiárias, especialmente as que não tinham acesso fácil a especialistas. A convocação ativa elimina barreiras como desconhecimento ou medo do exame, comuns entre mulheres de 40 a 50 anos. Para muitas, isso significa mais anos de vida e menos sofrimento. Assim, a certificação da ANS não apenas eleva o padrão dos planos, mas também reforça a prevenção como direito essencial, aproximando a saúde suplementar de um modelo mais humano e eficaz.
Quais desafios persistem no combate ao câncer de mama?
Apesar do avanço, obstáculos permanecem. Nem todas as operadoras buscarão a certificação, já que ela é voluntária, o que pode criar desigualdades entre planos. Além disso, a adesão das mulheres depende de campanhas de conscientização, algo que a ANS ainda não detalhou. No SUS, apenas 60% das mulheres de 50 a 69 anos fizeram mamografia nos últimos dois anos, segundo o IBGE, indicando que a cultura de prevenção precisa crescer.
Outro ponto é o custo. Embora a detecção precoce economize a longo prazo, o investimento inicial em rastreamento amplo pode desanimar algumas operadoras. A qualidade dos equipamentos e a capacitação dos profissionais também influenciam os resultados, exigindo fiscalização rigorosa. Portanto, enquanto a decisão da ANS é um passo adiante, sua eficácia dependerá de como gestores, médicos e pacientes abraçarão essa nova fase na luta contra o câncer de mama.
Um marco na saúde feminina brasileira
A decisão da ANS de incluir o rastreamento de câncer de mama a partir dos 40 anos nos planos de saúde certificados é um divisor de águas. Ela responde a uma demanda antiga de médicos e pacientes, ajustando a saúde suplementar às necessidades reais das mulheres brasileiras. Com foco na detecção precoce, o programa promete reduzir mortes e tratamentos agressivos, trazendo esperança a milhões. Enquanto os desafios de implementação persistem, o caminho agora é de ação: operadoras precisam se adaptar, e as mulheres, aproveitar. Assim, 2025 marca o início de uma era mais preventiva e justa na saúde feminina no Brasil.